O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Sobre os "Animais Iluminados"

Queridos amigos Luar Azul e outros, com toda a amizade, mas em nome do mais elementar bom senso, não posso em absoluto estar de acordo com o que dizem sobre os "animais iluminados". Claro que concordo com tudo o que dizem sobre a igualdade de todas as espécies perante a natureza fundamental que lhes é comum e, se quisermos chamar Buda a essa natureza, como é o meu caso, é verdade que todos os seres e todos os fenómenos são Buda. Agora - e falo na qualidade de um reles caminhante budista, que tenta estudar os textos de uma tradição com 2600 anos - o Buda histórico e todos os Budas vivos são unânimes em declarar que, de todos os seres possíveis, só os homens e, nalguns casos, certos deuses (com mais dificuldade), podem reconhecer, fruir e manifestar plenamente essa natureza de Buda, para o bem de todos os seres. Claro que o que importa não é dizer que é assim, porque o Buda o disse, o que seria cair no dogmatismo que ele próprio denunciou. Mas o que acontece é que para mim essa declaração é conforme à mais elementar e evidente observação da realidade. Olhemos para a vida animal à nossa volta ou para aqueles belíssimos e terríveis documentários televisivos sobre ela... Aí temos a "comunhão" profunda de que fala o Luar Azul: o albatroz a devorar o peixe, o gato a abocanhar o pássaro ou a matar o rato com requintes de brincadeira cruel, o leão a lançar garras e presas à garganta da zebra, a águia a agarrar o coelho e a arrancar-lhe os olhos e as vísceras à bicada adunca... Porquê ? Porque vêem neles o Buda e são o Buda, claro... Que maravilha de instinto, amor e visão iluminados ! E as suas vítimas, que mística volúpia devem sentir ao verem-se devoradas vivas por Budas vivos ! Sim, pois aqueles esgares de terror e angústia, aquelas convulsões dos corpos a contorcerem-se, são meras ilusões de óptica da nossa percepção humana, demasiado humana, do nosso antropocentrismo... Eles na verdade estão é a gozar imenso ! E nós, humanos, devemos então prosternar-nos diante desses "animais iluminados" e implorar-lhes que nos ensinem como chegar a esse estado de profunda comunhão amorosa, espiritual e mística... Sim, porque procurar exemplos e ensinamentos em Buda, Cristo, Ghandi, Madre Teresa, Dalai Lama, se temos ao nosso dispor o nosso cão ou gato e, lá fora, toda a fauna dos nossos irmãos predadores na sua actividade devoradora, digo, comungadora, uns dos outros !?...
Bom, não havendo iluminação, haja pelo menos bom senso !... Claro que os homens fazem o mesmo e muitíssimo pior. Mas têm pelo menos a possibilidade de o não fazer e constata-se que alguns, embora infelizmente raros, renunciam a toda a dualidade, a todo o egoísmo e instinto agressivo e dominador, e vivem apenas para o bem de todos os seres... Os sábios e santos, em todas as religiões ou fora delas... Esses manifestam plenamente a insuperável singularidade do homem: ser o único ser que tem a potencialidade de abdicar plenamente do amor-próprio, dos condicionamentos da sua espécie e colocar-se ao serviço do bem universal, transcendendo todo o especismo e todas as formas de ser. Nessa perspectiva, pode falar-se da "superioridade" do sábio e do santo, a qual reside precisamente em não se sentir superior e antes o mais humilde servidor de todos os seres... Como na cultura portuguesa o viram Antero de Quental, Sampaio Bruno, Pascoaes, Agostinho da Silva... Na mesma perspectiva, deve falar-se da inferioridade do homem gregário e comum, que, podendo tornar-se sábio e santo e colocar-se ao serviço da libertação universal, nada faz para tal e antes se converte no mais feroz predador de si e dos outros, humanos e não humanos... Esse vive, em termos éticos e de consciência, e por mais que a sua natureza seja a de Buda, abaixo ainda do animal...
Quanto ao Buda, segundo a tradição budista, não é propriamente um "ser" nem vê nada como um "ser", pois transcendeu esse conceito. Quando vê tudo como Buda, experimenta a "vacuidade" (shunyata) e portanto nada vê como Buda (nem a si próprio), já não vê seres, como é claro no "Sutra do Diamante". O que não exclui, todavia, que Budas e Bodhisattvas amem todos os seres ilusórios e se possam efectivamente manifestar como animais, homens ou outros seres aparentes, para ajudar animais, homens e os demais seres. Mas estamos a falar então de emanações como animais ("tulkus", em tibetano, ou corpos ilusórios), que não são propriamente animais, com todo o seu cego instinto de sobrevivência, vivendo no sofrimento constante de ter de devorar e de fugir de ser devorados.
Por outro lado, creio que, ao falar da vida animal e de "animais iluminados", convém ter em conta não apenas os animais domésticos e fofinhos (embora baste olhar para esses, com outra perspectiva que não a da gratificação dos nossos sentidos e da satisfação das nossas carências afectivas), mas também todos os outros, de que geralmente temos tanta repulsa: lombrigas, lêndeas, osgas, lesmas, baratas, aranhas, melgas, pulgas, piolhos, ratazanas, serpentes, hienas, George Bush, Bin Laden, etc... E amá-los igualmente a todos, ou seja, tratá-los bem, ver neles o Buda ou o divino, mas ao mesmo tempo oferecer a nossa prática espiritual para que de uma vez por todas se libertem deste absurdo e terrível circo de ilusão e dor que é o círculo vicioso da vida, da morte e da transmigração, movido pela mente dualista, pelo apego e pela aversão. Sem isso, ficamos numa alternativa falsa e ridícula ao antropocentrismo e nos idílios ilusórios das visões cor-de-rosa da existência tão próprios deste novo obscurantismo chamado "New Age" que, em nome do "tudo está bem", somos todos Buda, Deus, etc., nos distrai desta preciosa e rara oportunidade de libertação que é uma existência humana, enquanto a doença, a velhice e a morte a passos largos se aproximam e a cada momento podem surgir...

Lamento estar em tão profundo desacordo convosco, caros Amigos, e espero que a vossa amizade resista à minha sinceridade, mas seja como for dêem-me o desconto pois mais não sou do que um obscuro animal não iluminado...

25 comentários:

Joana Serrado disse...

é por isso que o Paulo tem tanta paciência com estes animais vegetativos que são as joaninhas...

Luar Azul disse...

^_^ Bem, pelo menos numa coisa estamos de acordo pois dizes que "O que não exclui, todavia, que Budas e Bodhisattvas amem todos os seres ilusórios e se possam efectivamente manifestar como animais, homens ou outros seres aparentes". Era só isto que eu queria dizer.

Agora eu gosto de me ajoelhar à frente do meu cão e de lhe pedir refúgio como o grande Mestre que reconheço nele. Isso dependerá agora da tradição de cada um!

O que é certo é que se fizessem documentários sobre os seres humanos e os filmassem à hora da refeição, com as suas mandíbulas a deglutir a carne cortada, ou a chaciná-los em massa, certamente que também não pareceríamos material de Budas. Mas o certo é que também há muito amor, curiosidade, brincadeira e plenitude, em muitas espécies e são raros aqueles que dão valor à Alegria. Nós fazemos documentários de acordo com as nossas expectativas, felizmente já aparecem alguns que mostram o carácter hipergeneroso dos golfinhos, a vida familiar e abnegada de algumas famílias de leões, a contemplação silenciosa dos Pandas. Quanto aos animais domésticos, não é a primeira vez que por tristeza um cão morre à fome, recusando a comida, depois da morte do dono. Certamente que isso não mostra um Buda só por si, mas mostra que há um mundo para lá do: "é só um animal".

O meu cão tenho a certeza que só consigo imaginá-lo como um Buda e um grande Mestre, sobretudo na hora da diversão, agora os vossos já não sei! Se calhar tiveram azar!

(Peço desculpa a todos a quem isto possa ofender, na verdade eu sou um desbocado! ^_^ e peço desculpa sobretudo ao meu ego que não gosta nada de cair assim no ridículo e ainda por cima ofender, mas teve de ser! ai ai Sorry!!!)

Luar Azul disse...

Mas afinal estamos TOTALMENTE de acordo!! Dizes:

"o albatroz a devorar o peixe, o gato a abocanhar o pássaro ou a matar o rato com requintes de brincadeira cruel, o leão a lançar garras e presas à garganta da zebra, a águia a agarrar o coelho e a arrancar-lhe os olhos e as vísceras à bicada adunca... Porquê ? Porque vêem neles o Buda e são o Buda, claro... Que maravilha de instinto, amor e visão iluminados ! E as suas vítimas, que mística volúpia devem sentir ao verem-se devoradas vivas por Budas vivos ! Sim, pois aqueles esgares de terror e angústia, aquelas convulsões dos corpos a contorcerem-se, são meras ilusões de óptica da nossa percepção humana, demasiado humana, do nosso antropocentrismo... Eles na verdade estão é a gozar imenso ! E nós, humanos, devemos então prosternar-nos diante desses "animais iluminados" e implorar-lhes que nos ensinem como chegar a esse estado de profunda comunhão amorosa, espiritual e mística..."

É exactamente isso!! Perfeito!! E ainda mais dito de forma Brilhante!! Que prazer reler esta parte com mais minúcia!!! ^_^

(ai ai, que horror ter dito aquilo à bocado!! Perdoem-me, perdoem-me, perdoem-me!!! ^_^)

Anónimo disse...

Estou sincera e profundamente grata por ter esclarecido as pessoas que aqui têm vindo a emitir opiniões (com legitimidade duvidosa) acerca de gatos e outros seres... creio que, verdadeiramente, nunca os observaram bem fundo e tentaram compreender os seus terrores e profundas limitações... Muito obrigada, Professor !

João Beato disse...

O que se entende por New Age? Aldous Huxley é um obscurantista? E o Terence Mckenna, também é outro obscurantista? A verdadeira pesquisa espiritual não implica a capacidade de saber separar o trigo do joio? O Espírito não tem forma nem nome, "New Age" parece-me um rótulo demasiado fácil... Na cultura psicadélica há psiconautas pioneiros que põem as suas vidas ao serviço da Consciência com honestidade científica e espiritual! Budismo, Cristianismo, Hinduismo e outros -ismos também são, em grande parte dos casos, autênticos idílios cor-de-rosa e distrações ilosórias obscurantistas...O que se entende por pesquisa espiritual genuína? Nomes e formas? O que é o Espírito, afinal?

afhahqh disse...

Penso que, finalmente, descobri o que é a não-dualidade budista: partilharmos todos a mesma natureza. Se assim é, estava de acordo antes de saber que esse pensamento era a não-dualidade budista. Penso que partilhamos todos a mesma natureza, porque penso que temos todos a mesma origem. Quanto ao resto do post, estou de acordo em que a natureza é bastante cruel, mas em que nós também o somos, porque também matamos para viver (uns não, eu sei). De qualquer dos modos, tenho vindo a acreditar em que não alcançarei a libertação nesta vida - mas isso é outro assunto -, quem sabe se.

Anónimo disse...

"Animais Iluminados": não me atrapalha nada a ideia, pelo contrário é uma homogeneização bastante humana sendo eu um destes. E o "tudo está bem" também me corre no sangue pois tudo está na hora perfeita e no momento de ouro, não há tempo para lamechisses nem lamentações. Todos nós estamos no momento exacto e preciso do agora da perfeita existência na Terra isto sem me passar pela cabeça a humilde e bem humana política de aceitação das condições.... Mas o barco vira e afunda completamente na ideia descrita pelo Paulo Borges de "distração da preciosa e rara oportunidade de libertação"... "o medo da velhice e da doença" para impedimento e atrofiamento ou atrazo dessa libertação preciosa da humanidade": não há uma única possível distração em tudo o que acontece connosco nem com ninguém, esta oportuninade fomos nós proprios que a escolhemos e a ideia retrógada de salvação e libertação não dá nos dias de hoje ...a salvação e libertação faz parte da condição de descida ao planeta ...a doença é apenas uma apuramento do nosso ADN a que nós inconscientemente mas livremente aderimos, por isso não há um segundo de vida perdido ...todo o trabalho de salvação não é mais que uma ficção humana e medo e falta de consciência da verdadeira nossa origem e missão. Não vejo qual é o problema da existência dos movimentos "New Age" assim como de qualquer outros movimentos, visto não haver nada a perder nem a ganhar, o Paulo Borges é que pensa que está a ganhar a salvação(iluminação).

Ana Margarida Esteves disse...

É por isso que o Paulo também tem tanta paciência com essas flores daninhas que são as Margaridas;-) ...

Adoro quando as minhas intervenções provocam debates tão ricos;-) ... Minhas e de todos os que escrevem neste blogue!

PS - Aprendi lições muito profundas com as gatas Flor e Jolie, que me acompanharam durante os dois anos que vivi em Brasilia. Duas gatas franzinas, desmamadas com duas semanas de idade e que infelizmente morreram com apenas um ano de idade devido á falta que lhes fez o leite materno.

Luar Azul disse...

Até um Buda tem de usar uma capa, de vez em quando!!

Cara Brünhild, isso de tomar partido tem sempre um preço ^_^, a minha legitimidade é extremamente clara: os meus pais não confiam no que digo, as minhas irmãs gozam com o que eu digo e a minha sobrinha diz que eu sou um tosco! Nem o cão me respeita! Quanto à generalidade das pessoas, não me conhecem e passo despercebido.

Assim se vê, que posso andar nu pelas ruas, sem que ninguém se escandalize, tal qual um bobo da corte de um filme tipo Ran.

Beijinhos (não nos conhecemos mas Brünhild é um nome tão Lindo ^_^)

Anónimo disse...

Nós estamos-mos perfeitamente nas tintas para o que é ou deixa de ser a "iluminação" ou "libertação", como se lá chega ou para quem tem ou não tem condições para lá chegar ...

É por essas e por outras que nós somos muito mais espertos que vocês ... hihihihihi ...

E é por essas e por outras que vocês são tão afectivamente carentes ao ponto de cairem na esparrela de nos meterem em casa para vos consolar (e nós acabamos por nos tornarmos reis e senhores não só da casa, mas de vós mesmos e pelo caminho vos ensinamos uma lição ou outra).

=^..^=

João Beato disse...

"alternativa falsa e ridícula"

como se a espiritualidade tivesse que ser só "ou isto" "ou aquilo". Uma pessoa não pode ser budista e gostar de dançar ao mesmo tempo? É incompatível?

Interessam-me as manifestações do Espírito sob toda e qualquer forma que ele se possa apresentar, desde os mais complexos sistemas conceptuais, religiões, incluindo o desporto e o espírito olímpico, até ao tribalismo e animismo. É uma investigação objectiva, numa determinada perspectiva; apesar de já estarmos todos fartos de saber que não há sujeito nem objecto, não deitei o Aristóteles para o lixo. A questão do Goatrance insere-se num estudo sobre a dança como forma de espiritualidade que está muito para além de eventuais preconceitos que se possa ter em relação a determinadas "formas"; a dança é absolutamente universal. Dentro do trabalho sério também há, muito felizmente, lugar para brincar e, entre seriedade e brincadeira, pois no meio de muitas "flores de plástico" nem tudo é "falso e ridículo" como dizes (provar-to-ei mais cedo ou mais tarde), trouxe um assunto sem dúvida "alternativo" mas na minha opinião simbólico (Índia, Goa) e pertinente: o que é a espiritualidade? Para além de pertinente, dançar para festejar é muito divertido e fundamental e há muitos tipos de música e de danças: há de tudo para todos. Confesso que não estava à espera de uma reacção assim, não queria nem quero estragar a vossa festa. É sensato que "nem tudo esteja bem", mas acho que também é sensato saber reconhecer onde está o Espírito e ter algum humor.

Paulo Borges disse...

Caríssimo João Beato, Luar Azul, Ana Margarida e demais amigos, em primeiro lugar prosterno-me infinitamente perante vós todos como os meus perfeitos Mestres, pois tenho por ponto de honra que aqueles que connosco não concordam e contra nós pensam são precisamente aqueles com que mais temos de aprender a reconhecer e superar os limites da nossa visão e do nosso amor ! Por isso, bem hajam pela honra e privilégio da vossa oposição e bem espero continuar a ser digno de a merecer ! Para que a mereça plenamente, e por fidelidade à minha consciência, não posso todavia deixar de vos dizer como sinto em tudo o que dizem um profundo incómodo e susceptibilidade emocional que é sempre de suspeitar quando acalentamos pretensões espirituais e revolucionárias... Sim, na verdade, para escândalo das vossas consciências, digo-vos sinceramente que mais facilmente tomaria como mestre uma pedra muda da calçada do que um cão, um gato, Aldous Huxley ou Terence McKenna, que conheci pessoalmente e com o qual contracenei num filme realizado pelo Edgar Pêra (as imagens foram cortadas porque desatinei com o sujeito...), tendo-me deixado a nítida sensação de que, se não era obscurantista, era pelo menos obscurecido, que mais não fosse pela sua peregrina e criminosa ideia de que um minuto de consumo de droga nos leva mais longe do que uma vida de meditação... Quanto ao resto, meus amigos, o que eu acho, sinceramente, é que tudo é ilusão, a começar por mim, por vocês e por este blogue e continuando pelo Buda e pelo budismo, bem como por todas as tradições e religiões, mas sem exceptuar Deus, o Espírito (Santo ou não), a New Age, a dança, a revolução, a salvação, a iluminação, os animais fofinhos ou selvagens e todas essas chuchas de que precisamos quando não conseguimos viver à altura do desmame, das carências e do tesão insatisfeito, que alimenta muitas horas à volta desta telenovela bloguística, com a pretensão de sermos muito importantes e termos todos uma mensagem extremamente original a dar ao mundo... Agora aquilo de que não abdico é da necessidade que nós temos, a começar por mim, das mais saudáveis dessas chuchas (as que têm menos açúcar), enquanto não conseguirmos dispensá-las a todas e ser quem somos: Liberdade consciente e amorosa ! Disso e da denúncia da irresponsabilidade do "tudo bem", quando os ratos que todos somos continuam a ser devorados pelas serpentes que também nos habitam, não só no Jardim Zoológico (Já viram o espectáculo público da alimentação dos répteis, no Zoo de Lisboa ? Aprende-se mais aí sobre a dor e imoralidade do mundo do que em toda a obra de Schopenhauer...), mas em todas as circunstâncias da vida. Isto por mais que o meu amigo Luar Azul ache que os animais a devorarem-se vivos é a maior das curtições místicas !... Sinceramente, gostaria que ele pensasse ainda o mesmo se vivesse a experiência do rato na goela da serpente... Eu confesso que não tenho o ego preparado para tamanha comunhão espiritual !... Desculpem a frontalidade intempestiva, mas eu sou uma serpente daquelas que morde constantemente a cauda, tipo pescadinha de rabo na boca, para se devorar, ganhar asas e desaparecer, não para fazer de bicha de rabiar e cobra tonta no Carnaval da existência... Por isso vos/nos deixo este espaço, onde podemos fazer o que quisermos, desde fazer de conta e ostentar-nos no palco virtual, para gozo de um crescente público adepto deste circo da vida, ou confrontarmo-nos seriamente com os nossos limites e tentar convertê-los em limiares de auto-transcensão... Pelo vosso contributo para que eu mesmo o faça vos deixo o meu infinito "Bem hajam !"

Anónimo disse...

I said this more than once and don't get tired of repeating it: Accept Jesus Christ in you hearts as your Lord and Savior at this very moment and come to our service at Almancil's Baptist Church on Sundays at 11AM and you will achieve the Liberation you so ardently aim for.

Luar Azul disse...

Ai Grande Paulo! É tão bom ver-te assim, cada vez mais nu! É pena que não te possa também mostrar a minha nudez completa, a mamar em tantas chuchas, umas que aceitas bem (os teus textos e da tradição mística), outros que te deixam em choque (os que precisamente escusam como frívola toda essa tradição). De todas as chuchas em que mamo será porventura essa a pior: a de estar "tudo bem" e nada ser preciso fazer senão o enjoy da Vida. Percebo que isso te faça mal, pois és uma pessoa muito ocupada e queres ser Servo da humanidade. Eu poderia morrer agora que ninguém daria conta (os que dependem de mim estão iludidos).

Gostei imenso desta frase "para fazer de bicha de rabiar e cobra tonta no Carnaval da existência..." Ai como eu gosto de chuchar também nesse papel de cobra tonta e bicha de rabiar! Por isso não tenho medo de ser o bobo da corte, risível e desprezível a todos! Isso dá-me mais uns "pontos" de Liberdade (já vou com 639 ^_^)!!

Quanto a ser um rato engolido pela cobra, acho que deverias mergulhar mais nesse prazer! Eu sei bem o que é a dor, mas também sei que a alma não sente dor, que para ela tudo é apenas mudança e transmutação. O pássaro não morre por ser comido pela Serpente, apenas muda de figura, e a sua Alma sabe-o desde sempre e Ri-se, Muito, por estar na Companhia de Budas Ávidos. Deverias saber isso melhor do que eu (espanta-me!!). Já me imaginei muitas vezes a ser comido pelo Leão, a ser enterrado vivo, ou como o Dali descreve na sua biografia: (algo do género) todos os dias pela manhã imagino como será ser comido pelas larvas que trespassarão o meu caixão, a pele podre e esburacada, etc. Eu também vivo dessas imagens, como o paraquedista que se lança no vazio imagina a sua queda...

Nada há de mal nisso. Se queres aprofundar a experiência do Inferno recomendo-te os livros de Zerns e o "Brutal Master", o primeiro é veneno puro (a ler com o mais negro de Diamanda Galas em background), o segundo é curioso porque de alguma forma consegue encontrar miúdas que de facto querem ser torturadas... Pronto! Não seremos todos um pouco assim (a querer ser torturados para quebrar a máscara asfixiante e encontrarmos o puro Nada)? Eu prefiro o Kagaya (com imagens do Paraíso), mas é certo que de vez em quando me faz falta a descida aos "Infernos", quando a Beleza ganha aquela casca que a faz tornar-se um fardo, e não acho que esses infernos sejam menos paradisíacos, apesar de muitíssimo fragmentados (é impossível neles permanecermos íntegros sem vomitar ou chorar revoltadamente a nossa condição humana!).

Por mim estás à vontade para chuchares nas chuchas que quiseres. Eu espero sinceramente não te provocar incómodo ao chuchar alegremente as minhas, cheias de açúcar e muitos sabores por todo o lado, por favor olha para o lado ou manda-me embora se assim for!! Mas algo me diz que tens algum apetite por elas também! (senão não te fariam tanta confusão) ^_^

Abraço muito Grato, por tudo
^_^

Luar Azul disse...

Já agora, um link para um texto que escrevi sobre a experiência da Morte:

http://www.pedro-fonseca.com/pt/amor/unidiversidade.html

Paulo Borges disse...

Caro Luar Azul, tens razão se disseres que ainda me envolvo demasiado emocionalmente com debates que, em última instância, são fúteis, mas creio que te enganas se pensas que desconheço experiências do inferno (e do paraíso)... De facto, as que vivi e vivo chegam-me para não precisar de as procurar na literatura e na arte, ou como mero espectador, como também me chegam para me fazer ver que só são interessantes e transformadoras quando são voluntariamente aceites, não quando são impostas pelos outros... Daí tudo o que digo e reafirmo sobre a irresponsabilidade e insensibilidade de deixar os ratos na boca das serpentes quando os ratos não estão interessados nisso... O resto, conversa sobre o não agir, etc., são posturas intelectuais diletantes, estilo "blasé", verniz que estala à mínima dor de dentes. Falta aí uma distinção fundamental entre a verdade absoluta e relativa das coisas, na sua não separação. Quando verdadeiramente se compreende que em absoluto não existimos é que verdadeiramente se pode sentir compaixão imparcial e tudo fazer pela libertação dos que, relativa mas não menos realmente (para si), sofrem ilusoriamente apegados à ideia da sua existência. A verdadeira não acção é acção pura e absoluta, livre da ficção de sujeito, objecto e acção. A verdadeira visão da grande perfeição de tudo é inseparável do discernimento da imperfeição relativa dos seres e das possibilidades de a superar. Mas ficar na mera compreensão mental disso é ficar na cómoda armadilha do ego (o que seria de tanta gente e de tantos animais neste mundo, doentes e esfomeados, se todos pensassem em "não agir" e que tudo "está bem" no sentido em que pareces fazê-lo ?... o que seria de ti próprio, se todos os dias não houvesse quem agisse para te permitir continuar a pensar assim ?... ). Bom, mas armadilha do ego é aquela onde certamente estou, não por querer ser servo da humanidade, mas por achar que estou a falar para alguém que não para mim mesmo ! Por isso, daqui me vou !... Tchau !

Luar Azul disse...

Caro Paulo, condenas à morte todas as Serpentes do Mundo! ^_^

Grande Abraço e desculpa se te magoei, não foi por mal! p.

Anónimo disse...

Caro/a Meowarchy !

Continua "enaltecendo" os gatos com essa agressividade toda... tão marcadamente egocentrada ... Que grande homenagem ! Porque não enaltecemos também, todos os outros seres... nomeadamente, as pulgas e os parasitas dos quais os felinos são excelentes hospedeiros ? !
Pensa nisso...

Anónimo disse...

Falsos Profetas .... onde a bandeira do Espirito Santo dança ao vento, onde a obra de Agostinho é apregoada e usada como pretexto e protocolo cultural, onde uma religião budista tem ainda peso e sentença sobre os portugueses.... isto está muito fora do espírito universalista português ...nunca uma religião amarrou o espirito português nem nunca a essencia do Espirito Santo foi bajulada como hoje ....mas onde descansas o teu espirito? aqui te deixo a sentença para que reflitas na cadeira onde te sentas no incenso que cheiras e na iniciação que te falta... estamos em 2008 e gostava muito mesmo que desses uma volta pelos cérebros contemporâneos que fazem hoje a escola do homem de amanhã.... apresenta-te no presente e pára de apregoar e vestir o hábito de monge e deixa voar a pomba branca que não te pertence. como podes coroado pelo Espirito Santo mais a bíblia do Agostinho julgar pensamentos livres e novos com preconceitos velhos e bolorentos, onde o pensamento e a atitude voa livre como o vento, onde a criação nasce nova? ...que força é a tua? com que cara acordas? é bizarro que alguém com tanta fome de serpentes se possa apresentar à frente duma obra tamanha como a portuguesa, falando mais claro, do nosso profeta Agostinho, sem falar no posto e amizade com os budas todos ....cuidado com as línguas de fogo ... quem brica com fogo queima-se ... é a hora.

Paulo Borges disse...

Isso, caro Amigo, queima-me e sopra às chamas para que o incêndio fulgure e alastre ! Queima-me que é disso que gosto ! Mas não esqueças de deitar também à fogueira a impressão de que estás a falar para alguém que não sejas tu mesmo, a tua própria imagem reflectida ! Nada me pertence, de facto. Nada me pertence: a ti deixo tudo, os teus juízos, os cérebros contemporâneos, os pensamentos antigos e novos e essa tão bolorenta ideia da "escola do homem de amanhã"... Que me interessa isso se só o instante conta ! Mas há na tua raiva e na tua arrogância algo bem interessante: estás vivo ! Prefiro isso a mil elogios ! Continua a aparecer que ainda um dia havemos de ir beber um copo ! Saúde !

Anónimo disse...

"essa tão bolorenta ideia da "escola do homem de amanhã"..."

Ideia bolorente sim senhor ... O Marx e o Engels fartaram-se de apregoar essa treta e vejam no que deu ...

Marx e Engels e não só ... A maior parte desses cús pomposos que enchem as cadeiras das universidades, das igrejas, dos templos, dos "think tanks", das conferências e cimeiras de toda a espácie e que engrossam a conta bancária das livrarias e supermercados da "cultura" ...

Esquecem-se que o destino de tudo o que fazem, inclusivé o seus pensamentos balofos e o tão almejado "homem de amanhã" é ser mastigado pelas nossas mandíbulas ...

Anónimo disse...

Caro Luar Azul,

Não foi necessariamente "tomar partido" mas apenas porque concordo de todo com o que o Professor Paulo Borges disse... Mas tu, continua... gosto de te "ler" mesmo discordando dalgumas coisas que escreves !

Seja como for, beijinhos também para ti.

Luar Azul disse...

Cara Brunhild, o tomar partido veio a propósito do nome (a história da Brünhild, Valquíria e do seu pai Odin etc). Tomar partido tem o seu preço mas também nos dá grande gozo e leva-nos, ou a perdermo-nos, ou a encontrarmos o que há de mais Precioso, ou talvez os dois processos sejam faces diferentes de um mesmo movimento de Êxtase Infinito. Pelo menos a vida e o "tomar partido" já foram vistos assim e de muitas outras maneiras por muitas pessoas antes de nós.

Beijinhos também e tudo de bom! ^_^

Anónimo disse...

E pimba ! Tanta pancada mental e acaba tudo em beijinhos e bombons ! Qual é o próximo episódio desta telenovela "non stop" ?

Anónimo disse...

como antigamente, morrendo de Amor... não por Siegfried, mas pelo Universo inteiro...