O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O condenado aspira ao paraíso

"Gozar antecipadamente seja o que for, aqui ou alhures, é fornecer a prova de que se arrastam ainda cadeias. O condenado aspira ao paraíso; esta aspiração rebaixa-o, compromete-o. Ser livre, é desembaraçar-se para sempre da ideia de recompensa, é não esperar nada dos homens nem dos deuses, é renunciar não somente a este mundo e a todos os mundos mas à própria salvação, é quebrar dela mesmo a ideia, esta cadeia entre as cadeias"
- E. M. Cioran, "Le Mauvais Démiurge"

3 comentários:

Ana Margarida Esteves disse...

Quando não se espera nada nem dos homens nem dos deuses, quaquer coisa que acontece é por sí um milagre e por isso causa de maravilhamento.

luizaDunas disse...

Bondia*

Excelente texto. E comentário. É mesmo isso, parece que não damos um passo sem estarmos à espera de encontrar alguma coisa, sempre a negociar um resultado, o que é absolutamente anti-iniciático. Morrer é aquilo que não fazemos ou de que fugimos(temos medo de morrer!)e todos os passos no escuro ficam por fazer, isto é, os passos no Desconhecido, poderemos chamar-lhe de Abismo. Ser livre é fazer o caminho sózinho, sem bengala nem amarras, e verdadeiramente sem garantias.

Luar Azul disse...

Não há melhor presente que este presente!