O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 4 de abril de 2008

aceno

Passo a passo

Companheira

Nos aproximamos

Da infinita câmara

Para o repouso

Também ele

Partilhado

E sem fim

Com seus silêncios de pedra.

No oriente eterno

Em que dormimos

Estaremos apenas quietos

Camarada.

Por breves instantes

Os nossos passos

Se acompanharam

Lado a lado

No fulgor encarnado por encantos

Na partilha alegre das montanhas

Na extensão dos vales e dos mares

Na consentida presença

Companheira

No mesmo pão mastigado

Sobre as duras pedras

E as flores

Do caminho

Também ele

Interminável

Também ele

Animado –

E, ele também, solitário

Com seus cantos de cigarras.

4 comentários:

Ana Margarida Esteves disse...

Poema belo e triste ... Poema de despedida? De perspectiva de morte?

Sera que essa companheira nao conseguiu ajudar a voz do poema a superar a morte, visto que o Amor e A-mors, ausencia de morte?

Anónimo disse...

Caminante, son tus huellas
el camino, y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante, no hay camino,
sino estelas en la mar.

Caminhante, são teus rastos
o caminho, e nada mais;
caminhante, não há caminho,
faz-se caminho ao andar.
Ao andar faz-se o caminho,
e ao olhar-se para trás
vê-se a senda que jamais
se há-de voltar a pisar.
Caminhante, não há caminho,
somente sulcos no mar.

António Machado

Ana Margarida Esteves disse...

O objectivo do caminho e o proprio caminho, o proprio processo de crescimento, transformacao e transcendencia que este implica, e nao o seu objectivo.

O objectivo de uma senda e apenas o farol que guia o caminhante.

Quando o objectivo e atingido, o caminho e o caminhante esfumam-se em nada.

Anónimo disse...

Entrelacemos as mãos de ausência
Repousemos no ombro do esquecimento
Deslizemos para o sem fim
Seja esse nosso alento