O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 16 de abril de 2008

cantiga de amigo

A noite segura-a

Como um barco ao vento.

Dentro dos teus olhos

Acordam as docas

Sacudidas.

E o tempo mastiga

Violento mais um dia

Fragmentos, um braço

Nas garras da espuma

Agitada

Como um barco ao vento

– Sem poder acostar.

5 comentários:

Anónimo disse...

Magnífico ! Senti a ondulação, do mar e do amor.

luizaDunas disse...

Boa Noite Soantes,

Tenho sempre vontade de te falar, quando venho à Serpente e te encontro. Mas no momento em que inicio a dirigir-te o esboço de um cumprimento, para lhe seguir a definição do sentimento que me trazes ao ler um teu poema, há uma bruma que se me desce. Ao mesmo tempo que me incita a abençoar-te abrevia-me o encontro.
O estado de espírito do poema Oximoro é por demais ressonante em mim. E hoje apanhei o teu barco ao vento para me arriscar chegar Aqui, enquanto é noite.

fas disse...

Obrigado pelos vossos comentários. Parecem-me autênticos.

Anónimo disse...

Caro Soantes, podes falar sobre o que sentiste ao escrever este poema ?

fas disse...

Não seria honesto. Para além de uma nuvem e de um fio fino de sentido, que o próprio poema deve deixar ao leitor como um braço estendido