O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 18 de abril de 2008

Martinho da Arcada

No Martinho da Arcada
não tem nada
não tem pessoa, nem gente
não tem ninguém que mente

como o poeta nas fotografias
com identidades falsas
que fala de outras vidas
e de mares nunca navegadas

Não tem ninguém de verdade
aqui só existem heterónimos
então bebo e tenho tanta vontade
de inventar um monte de poetas

31.III.08

13 comentários:

Anónimo disse...

Se tem vontade, invente-os.. que foi o mesmo que "ninguém" fez.
O Martinho da Arcada é um lugar inspirador para o nada da vontade.

Anónimo disse...

No Martinho da Arcada
Oiço vozes do Oriente...
Expresso de mim, vem marcada
a hora que já não mente.

Anónimo disse...

A hora que já não mente
dentro bate e ressoa
A Oriente do Oriente
Nada ser é ser Pessoa

Anónimo disse...

Nada ser é ser Pessoa
Ser Pessoa é ser gente
Coração que já não doa
Leva o deserto à mente

Anónimo disse...

Leva o deserto à mente
o nada ser nem pensar
O resto é ser demente
na perda do procurar

Anónimo disse...

Na perda do procurar?
No ganho de perceber:
Só na demência do pensar
Se atinge o nada do Ser.

Anónimo disse...

Se atinge o nada do Ser
só na demência do pensar ?
Vê antes da mente perceber:
aí tens muito que achar.

Anónimo disse...

"Aí tens muito que achar."
Então deito fora a mente?
Como traduzo o olhar
sem memória de ser gente?

Anónimo disse...

Sem memória de ser gente
é que podes deveras ver.
Não é a confiar na mente
que se atinge o nada do Ser.

Anónimo disse...

Que se atinge o nada do Ser,
Sem mente nem pensamento...
Como o fazes? Posso saber?
Como geres este momento?

Anónimo disse...

"Como geres este momento ?"
Não o gerindo, claro está.
Não deixando que o pensamento
tome por real o que não há.

Anónimo disse...

Tome por real o que não há
e o que há por ilusão...
Tudo é Nada, ninguém está
neste poema de ficção.

Anónimo disse...

Nesta poema de ficção
nos sobrenadamos, eu e tu.
Real se volve a ilusão,
Nada é Tudo, nu e cru.