O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 11 de abril de 2008

o mar


"depondo as falsas seguranças mentais e afectivas em prol da imprevisível Aventura, nada há em que ela não nos solicite, o mais banal e quotidiano é esplendor e prodígio, o existir é Festa sem porquê nem para quê. Ser faz-se Viagem nas velas pandas do Amor: onde a terra acaba amar começa"
paulo borges - do finistérreo pensar, lisboa 2001

12 comentários:

Anónimo disse...

Como é que "ser" se faz "viagem" se ser vem de "sedere", "estar sentado", "estar em repouso" !?... O pensamento do ser é um pensamento sedentário !

Anónimo disse...

A saudade é dos vivos,
Viajantes da memória
Navegadores à vela
Dos sentimentos eternos.

O mar ficou
Suspenso na eternidade
Porém, eu já me tinha ido embora

Cai a noite de antigamente
Nos meus sentidos de agora.

Anónimo disse...

Beberei do mar, o azul e a espuma
Da neve sorverei o ar puríssimo.


Estará a minha voz, minha fala secreta,
Mais próxima da dos deuses
Em seu velho sudário.

Anónimo disse...

Vem, pelo caminho das falas
Encher este silêncio de nardos!
Mas vem serena, para que não trema
A minha mão surpresa

Nem se gastem os prantos
Pelo som, entre penhascos e lembranças…
Uma ilha adormeceu o atlântico
Nos braços mornos da canoa.

Já te não vejo bem, Ó ilha, a formosa!
Já me faltam teus ais, perdidos na areia branca…
Respiram as folhas de humidade e calor,
Puro contraste, o vermelho do chão!

Vem aninhar-te na memória, como um filho saudoso
Abraça a curva verde e brilhante do mar.
Somos da água, nós, os deserdados,
Desse imenso oceano, onde o limite é sonho,

Onde os sonhos são nau
E o mar caminho.

Anónimo disse...

Renascer
Virar a curva apertada da vida
E aparecer do outro lado,
Surpreendidos,
Com a nossa outra face.

Anónimo disse...

O que é melhor: ser poeta, poesia ou poema ?

Anónimo disse...

Talvez seja o Amor que levante o ser, que o arranque do chão onde repousa e o torne Viagem !

Ana Margarida Esteves disse...

E que a própria Viagem seja a Ilha dos Amores.

Que o Amor seja viagem

Que a Ilha dos Amores seja mais extensa que o maior dos continentes

E mais fluida que o mais infinito dos Mares

Que o Amor seja eterna transcendencia, que saiba transcender todos os objectos e abraçar todos os seres, para que aprendamos a abraçar o Nada.

Obrigada pelos teus sempre magníficos poemas, obscuro:-)!

luizaDunas disse...

... "onde a terra acaba amar começa"
Grandioso sentimento, o de quem Ama.

Tamborim disse...

Lindo Luiza!

Paulo Borges disse...

Devo dizer que "Onde a terra acaba amar começa" é o título de um dos livros de poesia do meu velho amigo Francisco Palma Dias, glosando o célebre verso camoniano. Vale a pena conhecer a poesia dele.

Anónimo disse...

Gema, modo de usar e de fazer, trama
...
4

repousas sobre a terra
poisada dentro de ti mesma e despertas
desfraldando meu corpo que murmuras
(sopro a sopro te descubro) e proferes
todos os sabores que prefiro
(amargosos, sem açúcar)

de ti a mim
amar reúne e nutre
de mim a ti
o mar desata um nó amarrotado.
Assim nos funda

estamos e somos
esta travessia que em nós pulsa
...
Francisco Palma Dias, in “Cante Quinto”, Guimarães editores, 1981.