O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 25 de junho de 2008

Pedro e Inês


A voz de Inês era um fio de água
Por onde bebia a vida o jovem rei.
Passaram pelo bosque os cavalos de fogo
Mas a voz de Inês não se apagava,
Ia com o vento, na crina dos cavalos;
Soprava nos canteiros perfume de cabelos
E de vento do norte em redor dos canteiros.

Um fio de água corria no peito de Pedro
Era a voz de Inês que não sossegava
De acender astros no negrume dos céus.
Tanto amor que mata e não nos morre
Tanta pedra brilhante a descer da montanha!
Por Inês se espalharam os brilhos da lua
E a voz saudosa do que foi seu rei
Há-de a mar o amor que não se rende.

Falo de um rei que achou na morte
A coroa oculta da sua rainha.
Se digo Pedro, uma pedra ganha forma;
Se encontro Inês, a Saudade transforma
Uma catedral de lágrimas em construído
Templo, túmulo de dormir e de sonhar.

Que rei ergue em torres de pedra e Sal
O recorte de um país?
Que rei coroou o Céu e a Terra
Por amor da sua rainha feita pedra de chorar?
Falo de Inês com as mãos abertas e vazias
Tanto amor que semeou no mundo
Esta saudade de ser maior que a morte!

3 comentários:

platero disse...

ó Maria

boa voz como sempre. é bom descobrir que há pedras de chorar

Anónimo disse...

De chorar e de rir, meu caro Platero...

Aquele abraço

Anónimo disse...

Pedras de chorar: os olhos de Pedro
Pedras de azular: o brilho do mar
Pedras de amolar: a tarde de outono
Pedras de beijar: a face do instnte
Pedras de morar: a casa e o sonho
Pedras de cantar: o vento nos cabelos;
Pedras de rir: os olhos alegres de Platero a olhar para mim...

Havemos de nos encontrar por aí.