O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sábado, 13 de setembro de 2008

Amor-Saudade



«L'amor che move il sole e l’altre stele»
Dante Alighlieri


Para os deuses e para os amantes, o Amor é o Sol. O abraço é como um nó. Não o que prende, mas o que une, o que abraça. Esse círculo místico que sustenta o corpo dos amantes não se desfaz na morte – não há morte nesse abraço – nem se dissolve no ar essa esfera de luz. Por isso, uma estrela distante move-se na paisagem dos céus, e próxima, mora no coração dos amantes sempre a nascer. Sempre a tempo de nunca haver nascido. A vida, para os amantes, é o Amor. Mas o Amor tem véus que cobrem e encobrem. É esquecimento. Eis porque as rosas bebem nas águas e mergulham nos lagos, e nascem depois de ter morrido. Re.nascem e re.morrem como o Sol, círculo de Luz que, antes e depois da carne do tempo, já soprava na boca dos deuses e enchia o vazio e esvaziava o cheio. O Amor é Criação e Saudade... e o Sol desocultado oculta-se na sombra dos amantes e nasce do círculo dos seus braços.

10 comentários:

Anónimo disse...

"Les poissons sont de l'eau à l'état solide.
Les oiseaux sont du vent à l'état solide.
Les livres sont du silence à l'état solide."

Pascal Quignard, Sur le Jadis

Será que a Saudade é o Amor em estado criativo?

Que tudo esteja a correr bem...como na tua escrita.

Anónimo disse...

Isabel,

Primeiro agradeço. Mesmo nos momentos em que não pude vir ao blogue, nos momentos em que o ruído do "pensamento planificador" quis ocultar as faces expectantes e curiosas das frágeis criaturas que nos olham "pela primeira vez"? nem nesses momentos esqueci... Les yeux sont de larmes à l'état solide...
A Alegria é o amor em estado permanente.

Um beijo

PS. Está tudo a correr bem,sim...Estradas à parte.Há a serra e as paisagens...

Unknown disse...

Um beijo Saudades,
deixo uma música intensíssima como o Amor se quer que seja:

http://br.youtube.com/watch?v=Wk-Z50LzZlg

Unknown disse...

http://br.youtube.com/watch?v=TEeaP_UQIq4

Ai Adriano, ninguém, ninguém... os cavalos do vento tudo alcançam... ;)

platero disse...

e tu sabes,

tb para os cães vadios e os mendigos o Amor - talvez de todos o maior - é o Sol

beijo de perto

Anónimo disse...

Anita,

...Quem poderá domar esse corcel?
Obrigado pelo carinho em música, pois claro!


Platero,

Tu és uma alma a quem o sol faz bem. A tua errância não é a do mendigo, mas a do "jardineiro" a do cuidador das rosas. Haverá melhor amigo do sol?

PS. Ainda tens daquelas abóboras maravilha? lindinhas?

Beijo, estamos juntos.

Paulo Borges disse...

Saudades, muito grato pelo texto e imagem belíssimos! Também ele "move o sol e as outras estrelas".

rmf disse...

(rapidamente)

... palavras diamantes, palavras nunca escritas, palavras impossíveis de escrever, por não termos connosco cordas de violinos, nem todo o sangue do mundo, nem todo o amplexo do ar, e os braços dos amantes escrevem muito alto, muito para além do azul onde oxidados morrem. Palavras maternais, só sombra, só soluço, só espasmos, só amor, só solidão desfeita...

(7 minutos depois)

Continuo a não ter palavras próprias para agraciar o teu Amor-Saudade. Faço minhas as de Cesariny, que as partilho, descontextualizadas de "You are welcome to Elsinore".

(7 minutos depois)

P: O que é a percepção do belo?
R: A consolação nas tuas palavras.

(Rapidamente)

Obrigado!
P.S. O que é o Amor?

Anónimo disse...

Paulo,
A escrita - e o Paulo sabe-o tão bem - é criação em Saudade. É Amor que não é nosso. É tão só a Saudade dele.

Um abraço de agradecimento pelas suas palavras.

Vergílio Torres,

O que escreve responde à sua pergunta final. O amor não tem quê nem porquê. Serão as Palavras o Amor? Será a Criação uma Saudade?...Será a Saudade o Amor? Será a música ou a asa, ou o ritmo? Ou será uma vibração mais alta? Um violino mais soante?
Que é e não é deste mundo, já sabemos. Que não está aqui, também. Que existe, existe… Nós é que não.

Um abraço

PS. Tenho gostado muito do que tem aqui postado. Obrigada.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.