O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sábado, 25 de outubro de 2008

Cinco Princípios




I Alma

Um vento transparente e invisível
leva o corpo do berço para a tumba
enquanto a vida pesa como chumbo
a alma é uma pluma leve e indivisível

centro e margem de um continente
feito de sangue, carne e saudade
não ela mas o corpo é o penitente
das coisas e da última verdade

da primeira também e do caminho
que nada tem a ver com ela
dizem que ela é um hálito divino

mas ao mesmo tempo ela é a vela
que leva o barco até à sua ilha
nas ondas dolorosas e doces do destino


II Saudade

Onda dolorosa e doce do mar salgado
vã palavra ou indizível vibração
cinde e une as lembranças em vão
e do profano parte para o sagrado

como o marinheiro à ilha afortunada
e a criança santa para a cruz
a saudade é a noite cheia de luz
uma estrela moribunda ardendo no nada

que é tudo quando o desejo venha
como um sonho sonhando que nunca tenha
saída sem regresso e entrada sem saída

olhando na paisagem do píncaro da vida
o futuro que uma lágrima desenha
na linha limiar da infinita despedida


III Horizonte

Linha infinita e limiar da mente
última região da realidade
até lá tudo é insuficiente
uma cartografia invertida da verdade

o horizonte é uma lâmina afiada
que finge abismos escuros e paraísos
e quem escuta os seus avisos
naufraga na água e depois no nada

no primeiro traço da última cisão
onde os peixes beijam as aves
e onde o céu engole as naves

no ponto onde a terra não tem chão
colorida da cor crepuscular das nuvens
tudo é possível na sua extensão


IV Liberdade

Tudo seja possível, exige a boca
para devorar inteiro o que existe
e que a fome humana pede de troca
da vida finita, dolorosa e triste

mas a liberdade não vem da falta
e nem da vontade sangrenta
talvez da saudade, que é mais alta
e na sua altura solitária inventa

uma companheira que nunca jura
nada para ninguém, somente a esperança
e uma sentença sem espada nem balança

a liberdade parece uma dança
da razão amarga com a loucura
alguém que perde e alguém procura


V Culpa

O homem que procura é este alguém
é uma sombra do deus ignoto
andando atrás do que nunca vem
carregando nas costas a história e o mito

e nos seus olhos o dom de ver o outro
a chaga purulenta do seu vizinho
e encontra na carne alheia um voto
um cálice dourado cheio de vinho

a culpa é mais profunda do que o pecado
que nem existe na verdade
o pecado é um produto da sociedade

mas a culpa do homem é um eterno fado
casada com a alma num círculo calado
com a saudade, o horizonte e a liberdade.

7 comentários:

Anónimo disse...

Vou para a Suíça.
Mais propriamente para Basiléia! ...
... ... ... ... ... ...

Anónimo disse...

G'anda maluca! isso é que foi brincar...

Anónimo disse...

Não vai para a Suíça e nem para Basiléia: Não vale a pena!

Anónimo disse...

Boa Viagem, ó Confusa (...) Recuperada! Gostei dos teus três minutos de boa disposição! Mas olha que a viagem continua... não fiques em Basiléia!... deves continuar... além, mais além...

E porquê Basiléia, podes explicar?

Anónimo disse...

Explico porque complico.

Anónimo disse...

Não, não explico! Saboreio com mel e nozes, perfumado com pó de alecrim. Delicioso!

Anónimo disse...

também comi queijo ao almoço com nozes. muito bom