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Um espaço para expressar, conhecer e reflectir as mais altas, fundas e amplas experiências e possibilidades humanas, onde os limites se convertem em limiares. Sofrimento, mal e morte, iniciação, poesia e revolução, sexo, erotismo e amor, transe, êxtase e loucura, espiritualidade, mística e transcendência. Tudo o que altera, transmuta e liberta. Tudo o que desencobre um Esplendor nas cinzas opacas da vida falsa.
"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".
"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"
- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente
Saúde, Irmãos ! É a Hora !
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12 comentários:
Permitir-me-ia perguntar a Aristóteles (se ele me pudesse ainda escutar):
"Porque é que manifestamente nem todos os melancólicos foram excepcionais [perittoì] em filosofia, na política, na poesia ou nas artes?"
Salvo erro, não creio que se deva caracterizar ou determinar algo mais vasto por algo mais restrito: o conjunto de todos os melancólicos "que foram excepcionais [perittoì] em filosofia, na política, na poesia ou nas artes" é menor do que o conjunto de todos os melancólicos.
Logo, talvez uma incidência seja mera fortuitidade e não permita deduzir ou estrapolar daí para uma regra ou uma razão.
Isto para já não falar do mais evidente mas indefinido e improvável sucesso de apurar e contar "todos os homens que foram excepcionais [perittoì] em filosofia, na política, na poesia ou nas artes".
Eu, caro Paulo, interrogar-me-ia mais fundamente, se o Estagirita se tivesse questionado substituindo a palavra melancólico por taciturno (na linha, até, de razões que aqui já hoje foram aduzidas para uma certa derrocada das palavras e do dizer, aqui porventura extensivo ao espanto questionante filosófico). Mas, é claro, ele no grego não dispunha de tal palavra, nem do sentido que lhe hoje damos.
Se bem que se possa até ir ao ponto de aceitar afinidades de sentido entre a "melancolia" (coisa grega) e a taciturnidade (coisa latina), sempre prefiro etimologicamente esta àquela: melas(negro)+ kholé(bílis) não me parece coisa que possa seja inspirador da melhor filosofia, política, poesia ou artes.
Ironizo, é óbvio.
Que lhe parece, meu caro Paulo?
(Aristóteles é sempre um bom digestivo para o pensar: isto, quando não é mais indigesto.)
"Orgulhoso dos seus feitos, decidiu voar até o Olimpo montando Pégaso, mas Zeus, ofendido, enviou um vespa para picar Pégaso e ele caiu no chão, que por mando de Atena tornou-se macio e Belorofonte não morreu com a queda, mas morreu como um mendigo alejado procurando Pégaso"
«Os maiores sábios e filósofos caminharam nas trevas da ignorância. No entanto, foram a luz da sua época. Mas que fizeram? Pronunciaram algumas frases e puseram-se a dormir».
Omar Khayyam
"Na verdade, a filosofia é nostalgia, o desejo de se sentir em casa em qualquer lugar."
Novalis
Caro Lapdrey, não concordo necessariamente com Aristóteles: pretendi apenas introduzir o tema da melancolia a partir de uma das suas mais reputadas referências tradicionais. Recordo contudo haver uma ambivalência da melancolia, sobretudo a partir da sua conotação com a "mania" platónica e com a influência de Saturno, ela mesma ambígua. Veja-se o neoplatonismo grego, que coloca Saturno acima de Zeus, na mesma relação da inteligência ("nous") com a "alma do mundo". Veja-se sobretudo Marsilio Ficino, que pensa, a par de uma melancolia patológica, uma outra, relacionada com a divina inspiração e o "divino furor" (mania) de Platão. Todo o neoplatonismo florentino segue nesta esteira e os desenvolvimentos posteriores são inúmeros, até aos dias de hoje, passando pelo inevitável Dürer.
Diria que a melancolia estende o seu espectro de afinidades semânticas desde a temível acédia monástica até à moção redentora da saudade. Gostaria de estudar a fundo tudo isto.
Saudindo.
Caros senhores malucos,
Pessoalmente considero-me um doido.
Será que há aqui lugar para mais um louco?
Com os mais dementes cumprimentos
Tarado
Gosto de vos ler sobre melancolia, acedia, estado taciturno e saudade. Muito mesmo. E releio o Agamben sobre o assunto e leio-vos e sempre aprendo e sempre preencho a melancolia, a acédia monástica ou o estado taciturno em mim?
Saurindo ou saudindo...também gosto muito das duas versões.
Bom domingo digo!
"[...] como é difícil dissociar de um ser a melancolia! Doença subjectiva por excelência, inseparável daquele que possui, ela adere até à coincidência: incurável. Não haveria nenhum remédio a ela? Sem dúvida: mas, então, seria necessário curar-se do seu próprio eu. A nostalgia de "outra coisa", nos devaneios melancólicos, não é senão o desejo de um "outro" eu, que todavia procuramos nas paisagens, nas lonjuras, na música, enganando-nos involuntariamente a respeito de um processo muito mais profundo. Regressamos sempre descontentes e abandonamo-nos a nós mesmos, pois não há saída para uma doença que traz o nosso nome e sem a qual, se a perdêssemos, não mais existiríamos" - "Le Crépuscule des Pensées".
http://br.youtube.com/watch?v=H6Fsr5odKM4
Melancolia... Oiçam como Tchaikovsky sente a melancolia. Abraço a todos.
anónimo: que lindo.
Paulo: Saturno!
a primeira vez que ouvi falar em Aristóteles+melancolia foi nas tuas aulas. é - acho que nisso devemos estar todos de acordo - um tema fascinante - até porque certamente nos toca a todos.
Cioran: fazes-me lembrar aquele livro do Stig Dagerman.
Disse alguém (não me recordo quem!) que "Loucos são aqueles que me chamam louca, por não entenderem a minha loucura"!
Afinal o que é isso de se ser louco?
Não será a loucura não mais que uma linha invisível que nos separa e une uns aos outros?
Bom domingo :D
"Nos dias melancolicamente estranhados de Janeiro de cada ano, dormir é também um agasalho.
Quem não sente a vida,
da sua vida a verdade?"
in 'Eu não amo, eu escrevo poemas de amor' de Máré
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