O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 19 de março de 2009

"...tudo tem a Vertigem por essência"

"Tudo é infinito, só o Infinito existe, só existe Deus, nada se pode pois determinar, possuindo pois tudo uma natureza imprecisa que se escapa de nós quando a procuramos agarrar pela razão determinadora, e deste modo se tudo é metafisicamente ou teometafisicamente impreciso, incerto, é que tudo tem a Vertigem por essência. A Vertigem é com efeito a suprema imprecisão anti-racional ou antes, ultra-racional, das cousas mergulhadas no infinito de Deus. E é por mergulharem no infinito de Deus que as cousas são imprecisas, incertas, vertígicas. Logo a Vertigem é sagrada, é divina. O Infinito é o Indefinido Absoluto, é a própria Vertigem que é assim Deus!"

- Raul Leal (Henoch), Sodoma Divinizada. Leves reflexões teometafísicas sobre um artigo, in Sodoma Divinizada, organização, introdução e croologia de Aníbal Fernandes, Lisboa, Hiena Editora, 1989, p.75.

Em homenagem a este imenso desconhecido do pensamento português, amigo próximo de Fernando Pessoa, que o defendeu perante o moralismo da "canalha", desigando-o como "alto génio especulativo e metafísico, lustre, que será, da nossa grande raça" - Ibid., p.125.

6 comentários:

Anónimo disse...

O vertiginoso Raul Leal, Paulo, só este autor a estas horas da noite depois de 14 horas de escola para me arrancar um sorriso declarado! O demencial...e o resto...profeta, claro! Como a literatura é vertigem libertadora do tempo, do espaço...viva o maior filósofo português!

Paulo Borges disse...

Viva! E abaixo a escola!

Anónimo disse...

Muitos risos! Abaixo a escola, claro...na imensa vertigem de se ser tudo!

Anónimo disse...

abaixo os PinK Floyd

Anónimo disse...

abaixo os 'Corpo Diplomático'

Paulo Borges disse...

Abaixo acima! Acima abaixo!