O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 12 de abril de 2009

apontamento de domingo de PAZcoa

O grilo é feito
De escuro e ouro nas asas
Sol brilhando
Nas articulações das patas

De silêncio de searas verdes nas antenas
E amarelo de girassol nos olhos

O grilo é feito de cantar
Os primeiros raios de sol
Da Primavera

12 comentários:

Paulo Borges disse...

Belo poema, Amigo!

Abraço

Lídia disse...

E tu, Platero, de que és feito? De poesia?

baal disse...

lídia espero por ti nas margens do letes.
r.reis

platero disse...

Caro Paulo
amigo

há cerca de 30 anos o Professor Jacinto Prado Coelho fez comentário semelhante a poema meu, por coincidência com o nome de "memória dos sons"
É gratificante saber que podemos suscitar, com palavras simples,sensações e emoções adormecidas.
Fiquei feliz por saber que o poema tinha agradado ao meu amigo.

LÍDIA
(de Ricardo Reis? ou sou eu que meto os pés pelas mãos?
:olha, Lídia...)

se eu for feito de matéria, Lídia, só se for vento
ou pó.
ou as duas coisa juntas

de qualquer modo, Lídia,
é de se lhe
fechar os olhos

fas disse...

Afinal o Alberto Caeiro existe?

platero disse...

SOANTES

abraço transatlântico. Muito agradecido pela visita.
que me leiam já me sinto feliz.
que me deixem suspeitar de que gostaram do que leram é simpático
como passear descalço sobre relva húmida no Verão

Anónimo disse...

Gosto muito do seu poema. Fez-me recordar-me criança e a descoberta espantosa de um louva-a-deus estático e prenhe de movimento, na fonte da aldeia e os momentos intermináveis e fascinantes que passei a olhar para ele.

platero disse...

caro anónimo

´bom que as palavras puxem coisas. Nem que as coisas não passem de memórias.
Há dias escrevia sobre os dias cinzentões e chatos, frios, próprios para acender o lume e "cortar as unhas dos pés".
Sei que pelo menos um leitor dessas palavras fez quase à letra o que elas prescreviam: não acendeu o lume mas ligou o aquecedor elétrico. E cortou as unhas.........dos pés

alguem que leu, como o meu bom amigo, a mecânica do grilo, fez-me chegar sua nostalgia de mais de um quarto de século: parar para ver um grilo.

tão simples, caro anónimo, quando se multiplicam por aí. quem sabe de volta não encontraria também um Louva-a-deus.
e por que não o seu?

abraço

Anónimo disse...

Na fonte da aldeia não está o meu louva-a-deus. Afinal sempre saltou instante.
Na praça da aldeia onde no cimo está a fonte, estagnam os carros, agora tantos, convertido num parque de estacionamento. As árvores mantêm-se mudas - que no tempo aparente nada permanece, há que continuar em pé -, o espanto é meu e dizem as pessoas da aldeia, "Naturalmente, as pessoas têm de estacionar em algum lado, homessa". Naturalmente.
Grata pelo seu poema. Leio, releio, e continuo a gostar.
Sabe que só as grilas é que cantam? Para chamar o macho, naturalmente.

platero disse...

cara afinal anónima

lamento desiludi-la mas o que canta são os grilos.
Conhece o Teatro de Tchekov? é o que me faz lembrar nossa conversa.
Mas é verdade. Além dos mais, como acontece com a maioria dos invertebrados, são os machos mais atraentes do que as fêmeas. No caso dos grilos, têm dois apêndices caudais - muito mais estéticos do que os 3 que deformam, desequilibram as grilas.
Quer mais?:
as asas das grilas são lúgubres- uniformemente escuras, roçando um gótico mau-gosto pouco usual na natureza.
as dos grilos são de tons diversos, com o traço comum de terem, na ligação ao tórax, laivos mais ou menos pronunciados de um amarelo-ouro.
Afinal, leu ou não leu o meu poema?

beijinho para si. E cuide de pôr ordem nas aleivosias dos seus co-aldeões

Anónimo disse...

Oh, mais um sonho que se defez... Afinal os grilos, heim?

platero disse...

cara anónima

flagrante mesmo a exuberãncia masculina para exibição às fêmeas verifica-se nas aves.
Veja os perús ou os pavões, os faisões, os próprios galos...

não se desiluda por tão-pouco, vá lá...