O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 1 de maio de 2009

Sobressaltos - "É de crer que se contentem de soltar à nossa volta imensa gargalhada"

"O ser ou se revela um ou muitos. Em nós, ele é ao mesmo tempo uno e múltiplo, e assim como nos implicamos em cada uma das maneiras como somos, assim cada uma delas implica as outras. Assim também uma ligação íntima e substancial existe entre um homem e todos os outros, entre um ser e todos os outros seres, não sendo jamais viável a liberdade dum sem a liberdade de todos, o bem dum sem o bem de todos.
Assim vemos o filósofo digno desse nome não poder situar-se do lado do que define e determina pois a verdade está também no que indiferencia e indetermina.

O homem que se toma a si próprio como fim é considerado, em geral, como um néscio e dia virá em que ele próprio o verifique. Mas esta humanidade que se tomou a si própria como fim supõe-se sábia. Já dos longes do suposto passado se levantam não só os velhos deuses, mas os vultos fantasmáticos dos homens de outras eras. Já erguem suas frontes meditativas sobre o horizonte ainda velado para a maioria, já alguns podem ver como nos contemplam. Em breve nos julgarão. Mas é de crer que nada digam. É de crer que se contentem de soltar à nossa volta imensa gargalhada. Depois sumir-se-ão de novo, deixando esta estúpida humanidade com sua ciência pequenina e perigosa, sua arte frustrada, sua magra filosofia, cumprir o lôbrego destino para que se adianta inconsciente"

- José Marinho, Aforismos sobre o que mais importa, edição de Jorge Croce Rivera, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994, p.215.

Sem comentários.

18 comentários:

Nunca Mais disse...

Tudo é ridículo, sobretudo o que se não vê como tal. Mas também o é dizê-lo.

Há todavia uma profunda seriedade no rir e nisso de que se ri.

Anónimo disse...

Até no dia dos Trabalhadores esta gente não pára de pensar sobre o ser...
Vão mas é para a rua, para a Luta!

Paulo Borges disse...

Quem te diz, caro anónimo, que isto não é uma rua e uma Luta!?...

baal disse...

digo eu.

baal disse...

queria dizer, digo eu que sou um ser que se revelou um.

Vento disse...

E o texto de Marinho, alguém o respeita? Se estivesse traduzido em inglês, seria hoje considerado um dos maiores pensadores europeus. Como escreveu em português, tem a maior parte da obra encaixotada na Biblioteca Nacional e, dos livros publicados, ninguém os lê.

Anónimo disse...

Pois. O problema é que tudo o que vem de Portugal tem necessariamente que ser mau. Pior, dizem até que não há Portugal. E tudo isto existe e tudo isto é triste e tudo isto é fado!

Ventania disse...

Na verdade e em absoluto não há, mas no domínio do que é relativo é melhor não o dizer...

Tempestade disse...

Quem tem hoje a capacidade de ver que o bem de um ser não é viável sem o de todos? Marinho não fala só dos homens. Quem pode mudar uma civilização fundada no antropocentrismo, a não ser uma enorme e dolorosíssima catástrofe?...

baal disse...

ne não escolhemos a razão, escolhemos o pensamento de uma medusa?

Oestrímnia disse...

Uma medusa pensa melhor que vocês todos, enquanto vos chupa as entranhas.

Anónimo disse...

O princípio-Medusa, a sorver o mundo!...

baal disse...

uma medusa é uma alforreca? sou um homem do mar,nao sou do pensamento.

Oestrímnia disse...

Baal, és um homem!? Desiludes-me.

Oestrímnia disse...

Em vez de tanta conversa de chacha, apurem antes o ouvido e escutem o imenso e tremendo gargalhar de que fala Marinho.

baal disse...

não sou uma onda do mar, és uma mulher? chatice... é assim a vida, mas sou um deus de letras pequenas (homenagem a saudades do futuro).

Outro disse...

Já experimentaste maiuscular-te, Baal?

baal disse...

boa piada, para um outro qualquer.