O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 19 de agosto de 2009

É a Hora! Com quantos minutos de atraso (mental?))?



A Pátria que vale a pena

É onde a beleza se instala

Onde a pureza da luz é inigualável

Onde as frontes substituem as fronteiras

Aberta de par em par a casa comum de sermos homens

É onde as mesas se podem cobrir de linho

E onde cada presença é uma totalidade de entrega

Na Pátria não há escadotes para a estupidez subir na vida

Não há Escariotes nem agiotas nem dementes a fingir de sãos

Só há o que há

O que pode ser colhido e partilhado sem os punhais a servir de sombra

Sem os sorrisos de quem tem dobradiças na espinha

Sem panelinha de pedinde na mão de quem quer ser rei

Na Pátria a única Lei é o Amor

O resto é turba insana

Que se engana quando se vê ao espelho

E acredita no que vê

Com os mesmos olhos com que desdenha a outra gente

A Pátria não é indigente

Nem precisa de quem a defenda

E a venda a seu bel-prazer

A quem quer ter poucos iguais

Ter uma Pátria exclusiva é castigo demais para quem nasce livre

E o Fogo preso dura muito pouco

Para quem se maravilha com o que é diverso

O Universo é demasiado vasto

Para sermos pasto de egoísmos

Chega de malabarismos de pechichinês

Não traz amarras quem nasce português

Nem tem limites o espaço duma vida

Bem ou mal parida

Ser Nobre não é coisa de berço

Nem se ilustra quem é escravo de si

16 comentários:

da nobreza disse...

«Ser Nobre não é coisa de berço Nem se ilustra quem é escravo de si».

«Não é por se ter o cabelo entrançado, nem por nascimento, que alguém se torna num Brahmane. Mas aquele que mora a verdade e a rectidão, esse é puro e é um Brahmane.»

nota: Brahman - aquele que atingiu o equilíbrio e a perfeição nesta vida, que é de carácter NOBRE.

contra-nota disse...

Aquele que mora a verdade e a rectidão que não são mais que a mentira e a tortidão, tudo areia da mesma pátria.

Anónimo disse...

Todos desejam ser Brahmanes... ahahah... assim nunca conseguirão. Todos querem ver Deus. Todos querem ser Deus, fundir-se, misticismo. Há duas vias possíveis nesta vida, não para nos tornarmos Brahmanes mas apenas como modo de existir: o ascetismo e o mundo. a solidão e a comunhão. Embora o ascetismo possa ser feito em comunhão. Mas em solitária comunhão. Encontro de consciências. Forças motrizes, diferenciadas: um. Nunca serei um Brahmane.

Anónimo disse...

Sou sem pátria. Uma folha na imensa árvore da vida. Um grão de areia no infinito areal que é o Universo. Ando à procura dela, mas ainda não a encontrei. A minha pátria é o nomadismo, o nomadismo é a busca do amor, a busca do amor é o desejo de completude, o desejo de completude é o sonho da paz, o sonho da paz é a imaginação da felicidade eterna, constante, permanente. A minha pátria é isso. E não é isso. Porque a pátria é inefável, ou talvez se chame "amor" - "dar e receber".

Anónimo disse...

A minha pátria é algo que ainda não descobri. Não sei o que é, desconheço-a.

Tomás, 6 anos, 1ºano disse...

quem disse que eu quero ser brahmo? Brahmon? Como se diz? Brahman! Eu quero ser astronauta quando for grande!

Anónimo disse...

Brahmane.
Brahman é D-us.

tatoo disse...

«A minha pátria é a vacuidade.» Acho que esta frase diz tudo o que não há a dizer. Vou fazer um tatoo no braço com ela. Não... se fizesse a vacuidade tornar-se-ia num grilhão, numa âncora, numa fronteira delimitadora da pátria.

Anónimo disse...

De Nirguna, Saguna.
De Saguna, Brahma.
De Brahma, Vixnu.
De Vixnu, Xiva.
De Xiva, Nirguna.
De Nirguna, Saguna
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Anónimo disse...

pirâmides circulares. novas geometrias. pescadinha de rabo na boca. serpente. eterno retorno - a chave do mundo e a ideia mais difícil de intuir.

afhahqh disse...

essa foto faz lembrar uma pintura de Hopper, ou é mesmo?

afhahqh disse...

Já vi que é foto. Bela.

João de Castro Nunes disse...

O corrosivo mal da inveja


A inveja mata, corroendo lenta
mas imparavelmente a alma humana:
é mal que de si próprio se alimenta
e aos poucos vai tornando a mente insana.

Pintaram-na os artistas primitivos
da forma mais horrenda que é possível:
animalescos dentes incisivos,
aspecto facial vesgo e temível.

É sempre deletéria a sua acção
no meio social, embora às vezes
pareça ter o dom da emulação.

Por mim não acredito que assim seja
especialmente quanto aos portugueses
que primam sobre todos pela "enveja"!


Iniquidade

Escandalosamente Portugal
tornou-se num país onde a miséria
ombreia com o grande capital
sem nada se fazer nesta matéria.

Enquanto a maior parte da nação
vive de escassos meios económicos
não falta gente, em postos de gestão,
fruindo de ordenados astronómicos.

Há que denunciá-lo abertamente
e em nome dos princípios da justiça
pôr cobro aos exageros da cobiça.

Entre as populações do continente,
por muito que este quadro se componha,
somos um caso extremo de vergonha!

platero disse...

Paulo

gostei muito
um abraço

Anaedera disse...

O que escreves me recorda
que na terra aonde nasci,
as mesas se cobrem de linho
e vou ganhando alento
para voltar à minha tarefa

de construir uma cidade

Paulo Borges disse...

Paulo, tens vários versos dignos da mesma antologia em que colocaria os quatro versos finais do poema do Platero!