O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 19 de agosto de 2009

"Recata-te de ti mesmo"

"Quando temeres os estranhos, recata-te de ti mesmo; porque sem os outros podes estar muitas vezes, sem ti nunca" - São Martinho de Braga (Dume), Liber de Moribus (Livro dos Costumes), 6.

3 comentários:

ainda o poeta espanhol disse...

recata-te de (ti mesmo) - ocidente;

sem (ti nunca) - oriente.

Miedo a dormir (ti mesmo)

Miedo a despertar (ti nunca).

Anónimo disse...

quando nos recatamos de nós mesmos estamos sem nós.

João de Castro Nunes disse...

Confrontação

Ser contestado é bom; ser posto à prova
é salutar; faz bem de quando em quando
saber-se que nem toda a gente aprova
as nossas veleidades de comando.

Estamos muitas vezes saturados
de uma total respeitabilidade
que nos endeusa e torna equivocados
pelo que toca à nossa identidade.

Na Roma antiga era hábito chamar
aos generais nos triunfais cortejos
todos os nomes para lhes lembrar

que não passavam de homens como nós,
devendo refrear os seus desejos
porque o poder é efémero e veloz!




Cinismo ou ironia?

Sem pôr em causa a sua “santidade”,
nunca existiu maior contradição
que a praticada pela Inquisição
durante toda a sua actividade.

Sem admitir qualquer diversidade
em matéria de fé, de opinião,
à sombra do espírito cristão
encheu de sofrimento a Humanidade.

Lembremo-nos que foi por cometer
um desses “crimes”, sem se desdizer,
que Jesus Cristo foi crucificado.

Perante o tribunal dos Fariseus,
por deles divergir, foi acusado
de um crime horrendo de bradar aos céus!