O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O Reino de Deus já chegou


Interrogado pelos fariseus sobre quando chegaria o Reino de Deus, Jesus respondeu-lhes:
«O Reino de Deus não vem de maneira ostensiva. Ninguém poderá afirmar: 'Ei-lo ali', pois o Reino de Deus está entre vós.»

Lc 17, 20-21

9 comentários:

Anónimo disse...

Esta Beleza não surgirá à imaginação coo a beleza de um rosto, de umas mãos ou de algo corpóreo, nem como a beleza de um pensamento ou ciência, ou como a beleza que tem berço em algo exterior a si, seja uma coisa viva, seja a terra, o céu, ou outra coisa qualquer.

Platão

Anónimo disse...

Um bem-haja para todos os seres sencientes!

Paulo Borges disse...

A questão é o que significa esse "entre"... E outra questão: Dharmakaya e Deus serão ou indicarão o mesmo?

Anónimo disse...

«Naquela Ilha de Amores
que sonhou Camões outrora
só entra e fica liberto
quem lá viva desde agora»

Agostinho da Silva

Anónimo disse...

Julgo que "entre" significa o silêncio vazio que há entre pensamentos, palavras e acções, sendo o vazio o nada que é tudo e não um vazio fechado e com limites. É esta a leitura que faço do "entre", muito inspirada na via de Buda...
Se Deus e Dharmakaya indicarão o mesmo?... Julgo que Deus é essência a partir do qual tudo se origina e morre... Com Deus, talvez haja um princípio e um fim, uma história com a qual as coisas se originam e se findam na essência, na partícula divina que desta forma atribui ex-istência e realidade (rés) a todos os fenómenos... Julgo que Dharmakaya é o nada que é tudo, sem princípio nem fim, sem história com origem e fim porque as coisas não foram criadas a partir de nada nem têm existência intrínseca uma vez que sempre houveram e se as há é porque são o resultado de causas e de condições que perenamente as transformam... O nada que é tudo não atribui e-xistência a nada pois todos os fenómenos são ilusão, mentira, ilusão que encobre a verdadeira natureza das coisas - a vacuidade. Deus é essência e Dharmakaya é vacuidade; Deus é real e Dharmakaya é ilusão; Deus é o uno e Dharmakaya é o nada que é tudo... Vejo diferenças, mas não serão estas diferenças dois lados da mesma moeda?

Anónimo disse...

Talvez os teístas "agarram-se" (con capio) à ideia de Deus, à luz, à verdade, ao Reino de Deus porque acreditam que havendo essência divina tudo o resto derivado dela consequentemente existe... Talvez os ateístas refutem o essencialismo divino e consequentemente a existência intrínseca de todos os fenómenos, sendo mais desprendidos em relação a verdades, arautos, reinos divinos, deus e deuses, permitindo este mesmo desprendimento um mais livre acesso à natureza primordial, à luz ou arrisco mesmo a escrever - a Deus - que os teístas crêem existir.
Assim nas diferenças vejo parecenças pois afinal uns e outros, ocidentais e orientais, teístas e ateus buscam o mesmo - o nada que é tudo que Agostinho da Silva denominou Espírito Santo.
Sim, acredito que o Reino de Deus já chegou... mas para vê-lo acredito que é preciso trilhar um caminho para lá ir ter... Uma vez chegados, há que destrui-lo para que nada reste...

Paulo Borges disse...

Caro Kunzang, leio os seus comentários num retiro budista, onde é suposto viver-se a experiência disso que, no dizer de Pessoa, é o "King of Gaps"... E fico por aqui.

Abraço

Anónimo disse...

adorava estar convosco... e estou mesmo... primordialmente... estarei um dia mesmo... totalmente.. abraço

Anónimo disse...

(...)"King of Gaps", o "rei desconhecido" que reina no espaço entre as coisas e os seres, alheio às categorias de tempo e lugar, sem início nem fim, "presença vazia" que não é senão um "abismo" e do qual se conclui: "Todos pensam que ele é Deus, excepto ele mesmo".

Paulo Borges, O Jogo do Mundo, Portugália Editora, p.87 ;)