O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 21 de junho de 2011

"Pela criação do Homem-Asa" - Tertúlia de homenagem a Cruzeiro Seixas: sábado, 25 de Junho, 16,00 horas, Livraria Sá da Costa, Lisboa

1 comentário:

Luiz Pires dos Reys disse...

Deixo aqui, pela sua importância, e por, se bem que publicado, ser porventura pouco conhecido, um poema de Cruzeiro Seixas, o qual não é até despropositado relativamente ao tema desta tertúlia:


Era um pássaro alto como um mapa
e que devorava o azul
como nós devoramos o nosso amor.

Era a sombra de uma mão sozinha
num espaço impossivelmente vasto
perdido na sua própria extensão.

Era a chegada de uma muito longa viagem
diante de uma porta de sal
dentro de um pequeno diamante.

Era um arranha-céus
regressado do fundo do mar.

Era um mar em forma de serpente
dentro da sombra de um lírio.

Era a areia e o vento
como escravos
atados por dentro ao azul do luar.

Cruzeiro Seixas

in "Áfricas", 1950, poema integrado no 1º caderno do Centro de Estudos do Surrealismo, da Fundação Cupertino de Miranda, Vila Nova de Famalicão.
(citado in jornal "Público", Sábado, 2 de Dezembro de 2000)