O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

ENVELHEÇO - não há como esconder

faltava-me - já tenho
uma tigelinha esboqueirada
azul-marinho

onde pela manhã
tomo os "Corn Flake" ou a gemada
rodeado de gatos

ao sólinho

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013


PORTUGAL NEO-LIBERAL

meu país minha pátria
meu Torrão Natal
meu ninho de surpresas

velho/novo Mito
de que a salvação
está
em substituir o estado
por empresas

a Bandeira o Hino
o próprio nome
te irão trocar

não estranhes PORTUGAL
que sob pretexto
de glória que te exalte

em vez de quinas
te pintem poços de petróleo

e os teus "legítimos" novos
proprietários

passem a chamar-te

PORTUGALP

domingo, 10 de fevereiro de 2013


NO EXPRESSO PARA 7 RIOS

1 - cada pessoa
tem um saco de palavras

em que tem medo
de meter a mão
e tirar uma

sempre que é preciso

2 - indiferente ao movimento
à velocidade
ao espaço
ao tempo

uma mulher de idade
num banco recuado

faz crochet

sem saber
sem dar por isso
entre Montemor e 7 Rios
faz um naperon
de TEMPO

3 - num banco da frente
uma rapariga loira
dorme

meia-hora depois
estarei eu

conforme

4 - no banco ao lado
uma jovem morena
faz tranças
no cabelo

a ritmo paralelo
a que a mulher do crochet
vai consumindo
a linha do novelo

são tererés
- delicadas tranças esparsas

lã merina
ou compridos
enleios
de calabaças

5 - DESISTIR
é meio caminho
para

des-existir

6 - com estas reflexões
com estes desvarios
se consomem os quilómetros
de auto-estrada

entre MONTEMOR
e 7 RIOS

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Escravo da ganância
rouba a bel-prazer
aceita o ignorante
a sentença de culpa
paga os impostos
alimenta o parasita

dorme o desabrigado
na hall do banco
que lhe roubou a casa
no chão,
um corpo encolhido
tolhido pela humilhação

um homem cansado
de dor enlouquece
espreita a fome
a miséria alheia
em cada esquina
enquanto o banqueiro
vestido de anjo
assalta o país

um homem sem nome
em tom de revolta
pede a quem dorme
que acorde e desperte
recorda que a vida
foi um dia assistida

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013


BREVE EXPLICAÇÃO DAS MOELAS


as moelas
têm as paredes duras

a elas
vão parar
sementes puras
-sem fissuras-

e são elas
as moelas
- porque de paredes duras

que têm
que moê-las

daí
o nome
das
MOELAS

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

ANIVERSÁRIO de nascimento de PADRE ANTÓNIO VIEIRA

TODOS de parabéns

mesmo o que nunca leram dele uma só linha
nem fazem ideia do CLUB em jogou
Quando fico triste, meu coração anoitece e pede em silêncio que a memória se faça viva e recorde. Então, todo meu corpo desperta e sorri. A cabeça inventa um ombro amigo e nele se abriga, sem medo. Esse é o instante em que eu sou feliz. Se o pranto toma lugar do riso, vou em busca do intervalo, ponto de fuga que reconheço no espaço. Nele a vida que tímida se esconde na sombra. 
Quando meu coração cansado, adormece, lembro do beijo que me ensinou a ser livre.