O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sábado, 6 de julho de 2013

lagartos ao sol

Um grupo de restaurantes vazios decoram a praia urbana. Uma família numerosa de prédios com varandas fechadas e parques de campismos com roulotes instaladas há anos completam o cenário.
As mercearias concorrem derrotadas com os mini-mercados.
Um casal cuja faixa etária parece-se com a minha, pergunta:
- Os bancos estão abertos aos sábados?
Responde o merceeiro
- Só em Paris...
Na Costa da Caparica, há brasileiros e portugueses, velhos e jovens, brancos e pretos, gordos e magros e gordos de novo. Um hamburguer ao modo Mc Donald's custa menos de 2€.
A caminho da praia encontro Rosa com a família. Chapéus de sol, sacos com comida e bebidas tornam a bagagem do fato de banho pesada.
É com esforço que damos um abraço, as nossas mochilas atrapalham. Resignadas sorrimos.
- Como estás? Há tempo tempo! Não envelheces...
- Nem tu!
Ambas sabemos que mentimos. Do meu lado intactas restam as sardas, do lado de Rosa, os mesmos ombros magros contrastam agora com a gordura acumulada nas ancas.
- Mas como estás?
- Desempregada...
- Mas fora isto, está tudo bem?
...
O nosso olhar vagueia. Pede um mergulho. O mar está povoado de banhistas como se fossem peixes - na rede boa presa.

Na areia - lagartos ao sol.

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